O Pedido​

Longe, longe, longe e ao mesmo tempo aqui do lado. Meados de dezembro, por volta das 15h... um médico de família, duas agentes comunitárias de saúde e uma estudante de medicina que recém terminara o segundo ano do curso, todos partem da UBS para visitas domiciliares. 3 pacientes para aquela tarde, histórias e estórias e demandas bem distintas. Uma delas..bem.. foi mais cruel, não que esse seja o termo mais adequado. Mas, honestamente, não me chega a palavra capaz de definir aquele sentimento.. ou aqueles sentimentos. 

Entramos. Uma pequena sala, um espaço grande onde ali se acomodavam duas camas e guarda-roupas.. era o quarto compartilhado por uma senhora de uns 80 anos, a filha de seus 50 e poucos e o neto de 19.

A senhora com demência senil.. deitada na cama, não conseguia se locomever com autonomia, só nas últimas semanas foram 3 tombos. A filha, uma ansiedade e uma aflição que consumiam todas as energias ali presentes. Era a cuidadora de sua mãe, não trabalhava e vivia todo tempo em função daquela senhorinha. O neto havia começado na faculdade, mas, por depressão.. abandonou.. surtos e mais surtos.

Em termos técnicos.. havia uma massa disforme e que ocupava quase todo abdômen daqueles cabelos brancos. 

Durante todo momento, naquela casa, a senhora se manifestava, dizia: "Tá doendo, doutor".. quando eu realizava a palpação, ela segurou minhas mãos e disse: "Faz uma oração pra mim?".

Confesso que o pouco de chão que restava embaixo dos meus pés se esvaiu e eu me afastei.

Nesse momento, o médico estava entrando em contato com o hospital para explicar a situação e tentar um encaminhamento mais rápido. 1, 2, 3 tentativas e a ligação caía. 

A filha.. falando e falando.. e, algumas vezes, cheguei a pensar que aquela alma era a que mais precisava de cuidados naquele lar.

Fomos embora. A senhora devia se dirigir ao hospital.. exames deviam ser feitos. A filha precisava de um acompanhamento na UBS.. seu filho também. 

Todos nós precisávamos de uma oração.

Isadora Macedo Tristão