Medicina Digna

    
Logo na primeira semana dentro da faculdade, me deparei com outros estudantes que, assim como eu, torciam para o sonho não se tornar banal. A Liga de Educação em Saúde (LES- FURG) foi uma grande impulsionadora de vontades, todas aquelas vontades que estavam buscando oportunidades de sair, procurar e realizar mudanças. 

Baseado em um dos nossos primeiros textos lidos - Os múltiplos sentidos da categoria “empowerment” no projeto de Promoção à Saúde,  de autoria de Sérgio Resende Carvalho – discutimos sobre como e o que significa empoderar a população, e assim como estava escrito nesse primeiro artigo, pude vivenciar na prática: Buscar garantir a participação de sujeitos na definição do seu modo de encaminhar a vida e que valorizem, no cotidiano do fazer saúde, o encontro entre profissionais e usuários e as lutas pela garantia dos direitos da cidadania.


   Adentram o consultório uma mãe e o filho, cujo desempenho escolar não era satisfatório, além dos muitos problemas em casa. Algum problema físico? Aparentemente nenhum!

   A consulta, marcada em nome do garoto começa e a médica pergunta a ele “Você sabe porque está aqui hoje?” O garoto se restringe a balançar a cabeça negativamente. A mãe então começa a falar “Bom doutora, o meu filho precisa de uma psicopedagoga e eu não consigo, na escola acham que eu sou desinteressada por ele. Mas, o meu vizinho conhece alguém que trabalha aqui na Unidade Básica de Saúde e conseguiu marcar uma consulta com especialistas, porque na verdade ninguém quer saber do problema dele.  Se a senhora for solucionar, melhor. E me consiga um atestado para o trabalho.”

   A médica olha para a mãe do garoto e diz  “Dona Ana, nenhum de vocês sabe porque marquei esta consulta, mas agora eu vou explicar. Justamente porque o seu vizinho trouxe o caso do Junior até mim e o encaminhei para os especialistas. Essa consulta é para que vocês conheçam a minha cara e saibam que eu estou com vocês.”

A mãe não conseguiu falar outra palavra que não fosse “Obrigado”.

A médica então perguntou “ E aí Junior as coisas não estão boas na escola?” O garoto continua balançando negativamente a cabeça. Ela continua “Marcamos essa consulta para você me conhecer e saber que eu, junto com a sua mãe, estou aqui para conseguir tornar a escola um lugar mais bacana pra você, tá?” O menino então sorriu.

Depois de conversar mais com o garoto, a médica se volta para a mãe e diz “ E você dona  Ana, tem feito o preventivo?” Ela explica que não, justamente por não gostar da equipe que estava realizando o exame na unidade. A médica então afirma “Bom, a partir de agora você já conhece a minha cara, já sabe bem quem eu sou, o Júnior já está encaminhado e vamos marcar dois retornos:  um para o Júnior para fazermos o acompanhamento do crescimento e vermos como foram as consultas com os especialistas e outro retorno para a senhora, para conversarmos mais sobre a situação em casa, buscando saídas e já fazermos o seu preventivo. Combinado?”

Dona Ana e Júnior saem sorrindo, bem diferente de como chegaram no consultório, além de ficarem com boas expectativas com relação ao atendimento. E a médica, satisfeita com a importância daquela consulta sem exames físicos, sem problemas físicos prévios, mas de extrema importância.

   
“O médico não me olhou nos olhos, o médico não me examinou, a consulta que durou 5 minutos, o que eu deixei de dizer, o que ele deixou de perguntar...” São coisas ainda ditas por muitas pessoas que procuram auxílio médico. Mas, de fato, existem muitas pessoas que acreditam, lutam e fazem uma Medicina DIGNA, digna para o médico e digna para o paciente.


*Ana e Junior são nomes fictícios

                                                           Abraços e lindo 2015, Mariana Codevila Buere

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